Depois de 40 anos o horizonte que se engoliu, vai misturado de doçuras e poeiras;
Depois de 40 anos o horizonte fica sempre mais dentro e sempre mais longe.
40 anos são muitos caminhos, muitas curvas, muitas securas e muitos oásis.
A beleza é ajuntarmos as alegrias, as amizades de verdade,
As lágrimas misturando realizações e costumeiras frustrações.
Quanta festa nas curvas destes 40 anos!
40 anos são milhares de grupos, milhares de compromissos,
Milhares de histórias, milhares de construções em mutirão.
40 anos construídos com os tijolos dos entusiasmos,
Com as ideias em cascata, com as decisões votadas e enxugadas
Não conseguindo imaginar que as coisas
Pudessem, um dia, chover de cima,
Com autoritarismos, querendo dizer-nos que isto é protagonismo.
Nas beiras dos 40 anos, quanta gente!
Lideranças aqui, mortas, morridas e assassinadas acolá...
Demo-nos um tempo de abraçá-las, agora.
Abraçá-las como se abraça o melhor que há no mundo e em nós.
Os nomes rodopiam em nossos corações...
E como não olhar os que largaram a mochila pela estrada?
Os que optaram, de repente, por outras trilhas menos complicadas?
Fica claro que nos 40 anos já havia mais bispos
com a juventude na poeira da estrada;
Já havia mais padres sujando as mãos em planos que incomodavam;
Havia mais povo cantando conosco as cantigas lindas que sabíamos fazer.
Na marcha para Canaã nem todos se movem na mística de resistência e profecia.
Recordar o que? Nomes? Eventos? Personalidades desabrochando?
Encontrões? Assembleias? Protestos? Lideranças?
Escritos? Cursos? Retiros? Escolas?
Ruas entupidas de jovens sonhando com um Reino mais do que uma Igreja bem comportada?
Ah! Como se sonhava uma Igreja profética e acolhedora...
40 anos vividos, contemplados,
Rezados,
distribuindo esperança, profecia e resiliência.
Temos consciência de como, nos últimos anos,
aumentou – ao longo do caminho – o número das hienas
que só sabem largar fel e pisotear as belezas sonhadas.
Hienas vestidas de vários trajes e várias insígnias,
que gostam de grandes eventos, de massas aplaudindo não se sabe quem,
mas detestam os pequenos processos de todos os dias.
Que não gostam de sonhos,
mas adoram leis, catecismos, diretrizes, direitos e ordens.
Temos consciência da noite invernal que nos envolve...
Quando as juventudes sonham com utopias,
A igreja invernal apresenta normas e limites;
não se quer dar conta de que as juventudes não querem ser vigiadas,
mas acompanhadas e cuidadas;
não se quer dar conta de que as juventudes
não querem uma unidade feita a toque de caixa,
Onde cada um fica agarrado ao seu pequeno mundo,
Mas que desejam uma organização capaz de construir,
em mutirão, projetos comuns,
Com um protagonismo que seja mais do que discurso.
40 anos são 40 anos de marcha, como no êxodo:
Alimentados por codornizes e manás,
Onde a história – que desejam que esqueçamos –
é mais do que saudade: é alimento dos sonhos passados;
Onde o protagonismo não é só discurso, mas é vivência linda e doída do dia-a-dia;
Onde a geração mais velha não tem medo do novo que sempre vai florindo
Nas pegadas rumo ao horizonte que sempre fica maior.
40 anos vividos
40 anos engolidos
40 anos ruminados
40 anos rezados e lutados
40 anos arrancados do deserto juvenil
Com vontade de florescer.
40 anos de horizontes que não acabam.
40 anos de doação, de eucaristias juvenis
dando vida ao povo que sonha leite e mel,
que acredita na partilha
e aprende a maldizer a acumulação.
Depois de 40 anos o que sobra são mais outros 40
Vividos com tudo isso
E com tudo que a novidade vai revelando.
Festejando 40 anos da Pastoral da Juventude no Brasil
São Leopoldo,
10 de março de 2013